quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Porque Marchamos no Dia da Consciência Negra

No próximo dia 20 de novembro o Movimento Negro Paulista organizará a IV Marcha da Consciência Negra, programamos o início da concentração às 11:00 horas da manhã no Vão Livre do Masp – na Av. Paulista. A Marcha da Consciência Negra é uma construção histórica coletiva, herdada das lutas travadas por negros e negras desde a chegada e escravização do primeiro africano no Brasil. Por isso em todo país as manifestações públicas e todas atividades de 20 de novembro organizadas pelo Movimento Negro rememoram a ancestralidade negra através de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra, isso remete a capacidade dos descendentes de africanos reconhecer valores, heranças, culturas, fundamentos e aplicá-los nas diferentes situações do presente e para o futuro. Compreendemos que o Dia da Consciência Negra é um Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro, trata-se de uma generosa contribuição da população negra para construção da brasilidade, por isso Zumbi dos Palmares se encontra no Panteão dos Heróis Nacionais, todo brasileiro lhe deve reverência hoje e sempre. Essa vitória tem grande significado político ao Movimento Negro e para luta da população negra, pois quem tem poder de construir mito nacional, tem poder de construir a própria nação. Em outras palavras mudar o Brasil é um sonho a ser atingido com o protagonismo do Movimento Negro e não uma utopia irrealizável.

Em São Paulo a Marcha da Consciência Negra teve sua primeira versão em 20 de novembro de 2003, na ocasião compreendemos que tínhamos encerrado um longo ciclo que consistia na desconstrução do significado oficial do 13 de maio e consolidado o 20 de novembroem última instância, a construção do Dia da Consciência Negra é uma longa batalha vencida contra a famigerada teoria da democracia racial. O triunfo de Zumbi dos Palmares teve início em 1971 pelo Grupo Palmares, em Porto Alegre , quando propuseram mais valorização ao herói negro, até então, esquecido pela população brasileira. A vitória exigiu longos anos de debates, denúncias, seminários, ações de rua, além de algumas atividades de massa que repercutiram positivamente para consolidação do Dia da Consciência Negra, tais como: 1988 a grande Marcha do Centenário da Abolição no dia 13 de maio e em novembro a caravana nacional para Serra da Barriga, palco principal do conflito de Palmares e lar de Zumbi, 1995 a Marcha Nacional do Tricentenário de Imortalidade de Zumbi dos Palmares em Brasília, 2000 a caravana nacional para Porto Seguro conhecida como Outros Quinhentos – 500 anos de Resistência, Negra, Indígena e Popular, dentre outras. Voltando a São Paulo, vimos que a pulverização das atividades do Movimento Negro fragilizava a coletividade negra; a necessidade da união do Movimento Negro para uma ação de impacto conjunta; que o novo período exigia propostas e debate político público, então, definimos pela organização da I Marcha da Consciência Negra.

Para o Movimento Negro marchar em 20 de novembro é avançar na luta contra todas as injustiças que pesam sobre negros e negras, compreendemos que a única saída para população negra é o combate e não se dará sem conflitos conta aqueles que nos oprimem. Por isso nos interessa a justeza da reivindicação e da proposta, não tergiversamos e nem buscamos palavras agradáveis aos ouvidos da mídia ou de qualquer segmento que representa a burguesia dominante. Essa é a razão das sucessivas vitórias do Movimento Negro brasileiro. Contra a mídia e a elite branca racista derrotamos o mito da democracia racial; criamos organismos de promoção da igualdade racial nas três esferas de governo; revogamos a Lei da Terra de 1854 na constituição com o artigo 68 da ADCT e o Decreto 4887/03, obrigando o Estado Brasileiro reconhecer a posse das terras dos quilombolas; criminalizamos constitucionalmente a prática de racismo; avançamos na implantação das cotas nas universidades; inserimos previsão orçamentária no plano pluri-anual da união e de vários estados e municípios; aperfeiçoamos a Lei de Diretrizes e Base da Educação através da Lei 10.639/03, com essa lei estabelecemos a base legal que desencadeara uma silenciosa revolução na educação e, conseqüentemente, no Brasil.

Essas conquistas indicam que o Movimento Negro está no caminho correto, que nosso processo de construção tem solidez, respeitamos a diversidade contida em nosso interior, porém estamos imunes as ações de espertos e espertezas conjunturais, palavras bonitas, cartas na manga e outros truques que aparecem no processo político. Faço questão de reiterar nosso propósito de que a III Marcha da Consciência Negra sempre foi ampla, desde sua concepção, pois fizemos questão de envolver juventude, a capoeira, as escolas de samba, o Hip Hop, as religiões de matriz africana, os evangélicos, e membros de todas as religiões, os estudantes e empresários e empreendedores - militantes ou não de Partidos e ou organizações e entidades. (...) participação de todos os setores anti-racistas da sociedade, negros ou não sob o tema”. Quem leu ou ler os materiais das marchas anteriores constará o caráter amplo da Marcha da Consciência Negra, mobilizamos entidades comunitárias, pois sabemos que é nas comunidades, especialmente nas periferias que se encontram a população negra, por isso orgulhosamente recebemos movimentos populares do Capão Redondo, Jd. Ângela, Cidade Tiradentes, Perus, etc. Compomos com os trabalhadores, sabedores que é na relação capital & trabalho que se acentua o racismo, através da CUT que altruísticamente abriu mão de sua tradicional Marcha do Sorriso Negro, da CGT que se envolveu inteiramente na Marcha e de vários sindicatos, como o Sindicato dos Metroviários que divulgou vários dias nas estações do metrô a Marcha da Consciência Negra com materiais que confeccionaram. Não vou me estender a cada segmento citado, apenas tentei corrigir falas inapropriadas, ou melhor, mentirosas sobre o sentido da construção da Consciência Negra expresso nas marchas. Nunca as organizações e ativistas do Movimento Negro que se envolveram na Marcha da Consciência Negra restringiram a participação apenas para negros, ao contrário, sempre buscamos outros segmentos sociais e étnicos, entendendo que o racismo não é um problema de negro, mas do Brasil.

Por fim, a III Marcha da Consciência Negra de São Paulo acatará a definição das políticas que a Assembléia Nacional do Conneb indicar, como forma de estabelecermos uma fala unificada do Movimento Negro em âmbito nacional. Somos e seremos sempre intransigentes na defesa da unidade do Movimento Negro, concebemos a unidade como um fundamento essencial para o avanço político e social das negras e dos negros brasileiros, acreditamos que a unidade da III Marcha da Consciência Negra se dará nas bandeiras que defenderemos, na divisão do protagonismo político, no respeito as diferenças políticas e ideológicas e na compreensão que o dia 20 de novembro é reservado ao nosso líder maior Zumbi dos Palmares, à Consciência Negra e a todas as mulheres e homens que nos legaram essa luta. Sem respeito a ancestralidade não há possibilidade de vitória dos negros na África ou na diáspora, resistiremos qualquer racista ou colaboracionista (consciente ou inconsciente) que tentar profanar a herança que recebemos de nossos avós.

Edson França – Coordenador Geral da Unegro

3 comentários:

Anônimo disse...

Léa, querida.
Como você faz um blog e não avisa os amigos????
Bueno agora que eu tô sabendo tamô aí pra ajudar...
Boa sorte

Ramon

Unknown disse...

Eleições diretas para as reitorias
(publicado no www.guilhermescalzilli.blogspot.com)

Salta aos olhos a diferença de tratamento conferida pela imprensa às manifestações promovidas em universidades públicas federais e estaduais.

Nas ocupações das reitorias da USP e da Unicamp (estaduais), realizadas no ano passado, os estudantes foram retratados como vândalos imundos e cínicos. Proliferavam imagens de escritórios bagunçados, barbudos seminus fumando cigarros suspeitos, fazendo churrasco, bebendo. Mesmo a ação truculenta da polícia foi ignorada, assim como as perseguições contra os organizadores dos protestos, violando acordos explícitos que antecederam as desocupações.

Agora, quando os protestos visam a UnB e a Unifesp (federais), os alunos se transformaram na infantaria do bom-mocismo. Aparecem bem trajados, sentados em círculos, a debater com seriedade sua lista de ponderadas exigências. Não há menção a qualquer dano provocado pelas ocupações. Vemos apenas seus rostos serenos, votando em assembléias ordeiras, exibindo cartazes. Mesmo sua teimosia em perpetuar os protestos, após terem suas exigências atendidas, soa como coerência revolucionária.

Claro, de um lado estava José Serra e, de outro, encontra-se Lula. A infra-estrutura podre, a insensibilidade das direções, o peleguismo dos quadros funcionais, as mordomias inexplicáveis e, principalmente, a falta de participação dos estudantes nas decisões administrativas são características comuns a qualquer universidade pública do país, quiçá do planeta. Mas a autópsia das entranhas carcomidas das federais é muito mais interessante do que fazer o mesmo com apadrinhados do PSDB paulista.

Já em 1991, quando ingressei na Unicamp, distribuí pelas salas de aula um manifesto sobre a necessidade de haver eleições diretas e paritárias para reitor. Acusava o DCE de estar preocupado apenas com hedonismo e exigências vazias. E apontava que os males da universidade começariam a ser sanados a partir do momento em que o corpo discente pudesse influir nas decisões tomadas pelos burocratas. Ninguém deu a menor, bola, evidentemente, muito por causa da pura e simples impossibilidade prática de se instituir aquelas mudanças.

O problema persiste. O PSDB chega ao quarto mandato seguido em São Paulo sem permitir procedimentos eleitorais sérios durante a sucessão dos reitores. Quem manda é o governador, que controla a polícia e o orçamento, empossa secretários, diretores e reitores, e estende seu domínio através dos milhares de cupinchas de gabinete, especializados em ouvir reivindicações, balançar as cabeças, tecer comentários assertivos e esquecer tudo.

A grande imprensa paulista escancara com gosto o cartão corporativo dos reitores federais (cujos gastos são públicos por natureza), mas morre de medo de investigar esses gigantes administrativos que são a USP, a Unicamp e a Unesp, onde proliferam sistemas de apadrinhamento na distribuição de benefícios, bolsas, viagens, cessões de espaço comercial, vantagens em concursos e editais.

As organizações estudantis dessas universidades paulistas demonstrariam habilidade estratégica se aproveitassem o momento e lançassem protestos semelhantes, coordenando as reivindicações com seus colegas das federais. Seria uma mobilização conjunta, a nível nacional, pela instituição do voto direto e paritário para as reitorias. A plataforma é imbatível, se discutida seriamente. A jogada impediria que os alunos das federais fossem usados como inocentes úteis pela mídia partidarizada. E esta, pega de surpresa, seria constrangida a a promover o debate.

Pois é. Onde estão os DCEs, quando mais se precisa deles?

Marcus Betti disse...

Olá Lea,

valeu

pode divulgar sim!